Estes pedaços me incomodam
espalhados sob a minha pele e tão aguçados
tão plenos ainda de aromas que foram deixados
lá trás
Me sinto deveras desconfortável
com esta voz estagnada na porta dos sentidos
me fazendo a garganta arranhar
e matando as canções que fui capaz de decorar
Eu estava plena pronta atenta
mas meu suprimento de amor em baixa
me expôs
Que raiva
sua saliva ter sabor próprio
sua textura ser tão viciante e cínica
você ser tão desconcertantemente essencial
perplexa
assisti você me chafurnar a alma
violar o receptáculo do meu peito
e se expandir como uma raiz, em silêncio, sem descanso
enquanto exalava um pretexto de promessa
um olho de pedido adocicado
sem professar palavra
Então
bem-vindo o fim de tudo isso
porque assim deve ser: começa e termina
sem muito se ter onde se segurar.
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sábado, 19 de fevereiro de 2011
Pra quem já teve (?) um grande amor
E
tem aquele amor que nunca vai embora
aquele tipo de amor
que faz você se envergonhar por sentir tanta inveja
quando vê dois jovens agarrados contra o muro
ou
alheios ao óbvio e indiferentes à fragilidade de um segundo
se sentarem abraçados
quase entrelaçados
tão imersos um no outro
que o mundo já não lhes convêm
ali, num banco de jardim
Aquele amor que não se gasta
que não tem consolo curativo de amigo que dê jeito
que não há outro amor que dê jeito
que não tem tempo que por mais que passe dê jeito
Um tipo de amor que quando acabou
fez você jurar que ia morrer e...
droga! Você não morreu
e outro, o outro também não morreu
A vida seguiu como nada tiveste visto previsto programado
as canções como se não tivessem sido balbuciadas
as mãos como se nunca tivessem ficado embaraçosamente suadas
as esperas como se nunca tivessem parecido eternas
escritos não tivessem sido todos os poemas
incontáveis juras não tivessem se acasalado à alma
ou a respiração tanta vezes parado – parava, eu juro!
Aquele amor que você deseja uma vida inteira conhecer
e daria a sua vida inteira pra não ter sentido
porque cala tão fundo, tão vívido, tão amargo
que é bom, é muito, muito bom
mas de que você nunca terá certeza
absoluta certeza
se não teria sido até melhor não o ter vivido...
tem aquele amor que nunca vai embora
aquele tipo de amor
que faz você se envergonhar por sentir tanta inveja
quando vê dois jovens agarrados contra o muro
ou
alheios ao óbvio e indiferentes à fragilidade de um segundo
se sentarem abraçados
quase entrelaçados
tão imersos um no outro
que o mundo já não lhes convêm
ali, num banco de jardim
Aquele amor que não se gasta
que não tem consolo curativo de amigo que dê jeito
que não há outro amor que dê jeito
que não tem tempo que por mais que passe dê jeito
Um tipo de amor que quando acabou
fez você jurar que ia morrer e...
droga! Você não morreu
e outro, o outro também não morreu
A vida seguiu como nada tiveste visto previsto programado
as canções como se não tivessem sido balbuciadas
as mãos como se nunca tivessem ficado embaraçosamente suadas
as esperas como se nunca tivessem parecido eternas
escritos não tivessem sido todos os poemas
incontáveis juras não tivessem se acasalado à alma
ou a respiração tanta vezes parado – parava, eu juro!
Aquele amor que você deseja uma vida inteira conhecer
e daria a sua vida inteira pra não ter sentido
porque cala tão fundo, tão vívido, tão amargo
que é bom, é muito, muito bom
mas de que você nunca terá certeza
absoluta certeza
se não teria sido até melhor não o ter vivido...
Em algum lugar aqui por dentro
Sempre houve este lugar
e dele é forçoso dizer
que nada o preencherá
uma paisagem de lastros firmes chão exato
sem muitas coisas a enevoar ou ludibriar seus percalços
uma paisagem
que orgulhosamente ostenta vales e cumes
numa singular propriedade sobre o espaço
nada ali convida ao ficar
porque há segredos que adormecem sobre sua tez
e nasceram para isso - serem sepultos e sós
nada ali convida ao frutificar
porque ali desovam as desilusões
e elas têm vergonha das verdades veladas
Nesta paisagem o que encanta o olhar
é o mesmo que nos encanta num deserto
- a certeza duma fonte oculta sobre a areia que escalda
enquanto range os dentes ao viajor
e em seu céu despovoado de estrelas
uma desmesurada lua faz as vezes de cortesã
- compensações de uma tela sem retoques
Nem todo ouro compra nem toda mulher trai
nem todo solo é fértil nem toda carne cai
nem todo amor é eterno nem toda dor se vai.
Mas num campo como esse
sempre há espaço para mais que uma divagação
e dele é forçoso dizer
que nada o preencherá
uma paisagem de lastros firmes chão exato
sem muitas coisas a enevoar ou ludibriar seus percalços
uma paisagem
que orgulhosamente ostenta vales e cumes
numa singular propriedade sobre o espaço
nada ali convida ao ficar
porque há segredos que adormecem sobre sua tez
e nasceram para isso - serem sepultos e sós
nada ali convida ao frutificar
porque ali desovam as desilusões
e elas têm vergonha das verdades veladas
Nesta paisagem o que encanta o olhar
é o mesmo que nos encanta num deserto
- a certeza duma fonte oculta sobre a areia que escalda
enquanto range os dentes ao viajor
e em seu céu despovoado de estrelas
uma desmesurada lua faz as vezes de cortesã
- compensações de uma tela sem retoques
Nem todo ouro compra nem toda mulher trai
nem todo solo é fértil nem toda carne cai
nem todo amor é eterno nem toda dor se vai.
Mas num campo como esse
sempre há espaço para mais que uma divagação
Beira de praia
O mar é uma extensão dos meus membros
um estiramento dos meus ossos
sempre estive lá como ele com ele nele
uma profunda comoção me acerca quando próxima a ele
útero mórfico plano insustento abraço de rochas
um mar já vivia dentro de mim antes de mim
e sua salobridade me vem a boca até sem o querer
- quase transbordo corais e sereias
suas areias são contas de contos de um sinistro rosário
alardeiam filamentos de corpos e preces por retornos
nada me passa desapercebido quando nele me deposito:
aves, vultos de peixes, orgia de algas, cheiro de terras
um eu que não é meu, que sempre foi dele
- o vento que lhe encrespa a face é o vento que me afaga
é desta fúria dos elementos que se embebeda a alma
e é nele que ela hiberna durante os malogrados temporais
O mar sempre coube em mim - mistério!
Mudam as estações e os homens
mas a sua impermanência é um alento
neste mundo de coisas rápidas e descartáveis
no seu plano de existência a lição da transitoriedade
é a regra da casa
dá-se, generoso que é, todos os dias ao céu por espelho
ele é o único que me rouba os olhos
que me quebra a bússola
que me rompe os tímpanos
O mar se confunde com esta minha momentânea estampa
e qualifica minha concha me ornando de cal e sol.
um estiramento dos meus ossos
sempre estive lá como ele com ele nele
uma profunda comoção me acerca quando próxima a ele
útero mórfico plano insustento abraço de rochas
um mar já vivia dentro de mim antes de mim
e sua salobridade me vem a boca até sem o querer
- quase transbordo corais e sereias
suas areias são contas de contos de um sinistro rosário
alardeiam filamentos de corpos e preces por retornos
nada me passa desapercebido quando nele me deposito:
aves, vultos de peixes, orgia de algas, cheiro de terras
um eu que não é meu, que sempre foi dele
- o vento que lhe encrespa a face é o vento que me afaga
é desta fúria dos elementos que se embebeda a alma
e é nele que ela hiberna durante os malogrados temporais
O mar sempre coube em mim - mistério!
Mudam as estações e os homens
mas a sua impermanência é um alento
neste mundo de coisas rápidas e descartáveis
no seu plano de existência a lição da transitoriedade
é a regra da casa
dá-se, generoso que é, todos os dias ao céu por espelho
ele é o único que me rouba os olhos
que me quebra a bússola
que me rompe os tímpanos
O mar se confunde com esta minha momentânea estampa
e qualifica minha concha me ornando de cal e sol.
Na travessia
Eu me imagino doída
já que aquela cicatriz se transformou numa libélula
meu braço alcança minhas interrogações
- rodopiam como moscas ao meu redor
mas ele não as distrai
estou em profunda ebulição
sei disso porque meu coração arde
e a janela já não me detém:
voo cada dia voos mais distantes
e demoro cada dia mais para voltar
As coisas que a gente inventa pra calar
o que alma berra...e não cala
Eu acenderia um cigarro agora - mas eu não fumo
então rabisco coisas sem compromisso num papel
sempre fico assim quando o sol me chega
rasgando as pupilas avançando pela garganta
me lembrando que preciso arrancar outra folhinha
deste calendário interno
as minhas perguntas estão cansadas de si mesmas
quem pode culpá-las?
É da sua natureza de existir
sem respostas
como é da minha natureza de existir
parí-las sem parar, ainda que exausta
Eu gostaria de ser uma ilha
e abrigar um naúfrago de amores
eu o alimentaria - como não posso fazê-lo por mim
e veria os dias atravessando o tempo em seus olhos
(é bem fácil quando é na pele dos outros)
Mas sou uma ponte, não uma ilha
e aqui não se detém ninguém.
já que aquela cicatriz se transformou numa libélula
meu braço alcança minhas interrogações
- rodopiam como moscas ao meu redor
mas ele não as distrai
estou em profunda ebulição
sei disso porque meu coração arde
e a janela já não me detém:
voo cada dia voos mais distantes
e demoro cada dia mais para voltar
As coisas que a gente inventa pra calar
o que alma berra...e não cala
Eu acenderia um cigarro agora - mas eu não fumo
então rabisco coisas sem compromisso num papel
sempre fico assim quando o sol me chega
rasgando as pupilas avançando pela garganta
me lembrando que preciso arrancar outra folhinha
deste calendário interno
as minhas perguntas estão cansadas de si mesmas
quem pode culpá-las?
É da sua natureza de existir
sem respostas
como é da minha natureza de existir
parí-las sem parar, ainda que exausta
Eu gostaria de ser uma ilha
e abrigar um naúfrago de amores
eu o alimentaria - como não posso fazê-lo por mim
e veria os dias atravessando o tempo em seus olhos
(é bem fácil quando é na pele dos outros)
Mas sou uma ponte, não uma ilha
e aqui não se detém ninguém.
Por detrás dos dias
Não sei se a manhã é fria ou o frio me percorre a alma
o olhar ainda embaçado não permite distinguir
qual foi o jeito errado em que distendi o músculo do coração
eu quero dançar
na beirada de um edifício no alto de seu 100º andar
pra testar novos voos e gostos e poder olhar
o mundo destas ilusórias passagens cá embaixo
em sua correta dimensão
A pele não me cabe mais e é um desconforto apertar-se assim
como num espartilho mal costurado
e esta cara que teve tantas possibilidades outrora
hoje é uma estranha que me arreganha dentes no toucador
Eu sei que vai passar - sempre passa
esta história de dias mal dormidos e mal acordados
mas é quando tenho mais saudades de um não sei quê
que fica preso entrecortado entre a garganta e a própria voz
Devia ter mais cuidado ser mais seletiva
ao escolher o cenário da própria história que se vai protagonizar
Um dia é uma contenção da barragem uma fragilidade anciã
quando se suspira demais pra se dar conta de outra manhã.
o olhar ainda embaçado não permite distinguir
qual foi o jeito errado em que distendi o músculo do coração
eu quero dançar
na beirada de um edifício no alto de seu 100º andar
pra testar novos voos e gostos e poder olhar
o mundo destas ilusórias passagens cá embaixo
em sua correta dimensão
A pele não me cabe mais e é um desconforto apertar-se assim
como num espartilho mal costurado
e esta cara que teve tantas possibilidades outrora
hoje é uma estranha que me arreganha dentes no toucador
Eu sei que vai passar - sempre passa
esta história de dias mal dormidos e mal acordados
mas é quando tenho mais saudades de um não sei quê
que fica preso entrecortado entre a garganta e a própria voz
Devia ter mais cuidado ser mais seletiva
ao escolher o cenário da própria história que se vai protagonizar
Um dia é uma contenção da barragem uma fragilidade anciã
quando se suspira demais pra se dar conta de outra manhã.
Quando uma mulher ama um homem
O homem que eu amo
é capaz de fazer minha alma alçar voo e dar testemunho da dor do inferno
Só ele detém poderes sobre o tempo
que é veloz ou algoz segundo sua chegada
ele fala comigo num idioma próprio
e meus ouvidos percebem música quando seus passos se anunciam nas escadas
O homem que eu amo exala um aroma inconfundível
que minha pele distingue no escuro sem estrelas
e isso faz um sol de meio dia despontar no meu corpo inteiro
ele percebe minhas fomes e febres
pelo olfato apurado de seu prazer
O homem que eu amo tem dedos impressos nos meus dedos
digitais que se embaralham às minhas e cores de lume
que fazem o mundo mais convidativo ao meu despertar
seu ritmo ao cantar desacelera meu coração
mas seu silêncio me cala a alma e traz o mar aos meus olhos
Esse homem poderia ser qualquer homem que
um dia
se atreveu a mergulhar num instante de sedução
mas não
o homem que eu amo tem no espírito cigano talhado o meu nome
que ele arrancará um dia mas que o marcará para sempre
enquanto minha essência se abrirá numa flor fractal e rubra.
é capaz de fazer minha alma alçar voo e dar testemunho da dor do inferno
Só ele detém poderes sobre o tempo
que é veloz ou algoz segundo sua chegada
ele fala comigo num idioma próprio
e meus ouvidos percebem música quando seus passos se anunciam nas escadas
O homem que eu amo exala um aroma inconfundível
que minha pele distingue no escuro sem estrelas
e isso faz um sol de meio dia despontar no meu corpo inteiro
ele percebe minhas fomes e febres
pelo olfato apurado de seu prazer
O homem que eu amo tem dedos impressos nos meus dedos
digitais que se embaralham às minhas e cores de lume
que fazem o mundo mais convidativo ao meu despertar
seu ritmo ao cantar desacelera meu coração
mas seu silêncio me cala a alma e traz o mar aos meus olhos
Esse homem poderia ser qualquer homem que
um dia
se atreveu a mergulhar num instante de sedução
mas não
o homem que eu amo tem no espírito cigano talhado o meu nome
que ele arrancará um dia mas que o marcará para sempre
enquanto minha essência se abrirá numa flor fractal e rubra.
Rebelde com causa
Esperam de mim
que eu tenha formas que não são minhas
modos que são tradicionais
que eu me case de véu e grinalda
que eu fale baixo e não gargalhe alto
que eu saiba andar de salto alto sem virar o pé
que eu leia muito estude muito trabalhe muito
e descubra sem susto que enquanto fazia isso tudo
envelheci
Esperam de mim que eu use o que está na moda
que eu leia três jornais duas revistas um best-seller
que mastigue de boca fechada e olhos murchos
que eu me revele discreta mas sedutora
fogosa mas recatada
humilde mas com aquele certo orgulho sustentado no olhar
Esperam de mim que eu tenha ideias claras
num mundo baço e confuso
que eu tenha uma fé inquestionável
e valores inabaláveis
pra combinar com meus desgostos indisfarcáveis
que eu não erre e se errar disfarce
que eu agradeça sempre
e sorria mesmo se meu coração sangrar
Esperam de mim algo robótico
planejável programável aceitável
Esperam demais de mim
principalmente
coisas de que eu não gosto e que não fiz e não farei
com certeza
questão nenhuma de acatar
que eu tenha formas que não são minhas
modos que são tradicionais
que eu me case de véu e grinalda
que eu fale baixo e não gargalhe alto
que eu saiba andar de salto alto sem virar o pé
que eu leia muito estude muito trabalhe muito
e descubra sem susto que enquanto fazia isso tudo
envelheci
Esperam de mim que eu use o que está na moda
que eu leia três jornais duas revistas um best-seller
que mastigue de boca fechada e olhos murchos
que eu me revele discreta mas sedutora
fogosa mas recatada
humilde mas com aquele certo orgulho sustentado no olhar
Esperam de mim que eu tenha ideias claras
num mundo baço e confuso
que eu tenha uma fé inquestionável
e valores inabaláveis
pra combinar com meus desgostos indisfarcáveis
que eu não erre e se errar disfarce
que eu agradeça sempre
e sorria mesmo se meu coração sangrar
Esperam de mim algo robótico
planejável programável aceitável
Esperam demais de mim
principalmente
coisas de que eu não gosto e que não fiz e não farei
com certeza
questão nenhuma de acatar
Isso de ser mulher
Toda mulher nasce sabendo das coisas do tempo
da hora da germinação das sementes
e é expoente de fé na vida de um homem
e muitas das vezes sua perdição
toda mulher é consumida e se consome
da fome de amor que ela não sacia com ninguém
toda mulher lê nas estrelas toda mulher levita no gozo
e traz em seu corpo o ciclo da lua e das marés
toda mulher palpita ao toque das mãos amadas
toda mulher reúne bruxa e fada
são todas ladinas sereias bailarinas
toda mulher chora por tudo e por nada
toda mulher sabe ser a safada a santa a filha e a mãe
é conto de areia é canto de iara é orvalhada
toda mulher seduz e finge ser seduzida abduzida pela paixão
e toda ela é festa quando lhe aquece o coração o cheiro amado
Toda mulher é solo fértil das ilusões mais infantis
e ela sabe bem o que diz quando diz não
toda mulher é sementeira toda ela ela inteira é criação
ela embala nos braços o filho a pátria o sonho
ela acorda à noite pra convocar os anjos
e solta seus demônios quando ocorre traição
Toda mulher
carrega num ventre lacrado o segredo
do que ainda nem foi gestado
e mesmo sem parir
toda mulher é mãe diante da possibilidade de amar
porque toda mulher
é uma eterna rosa menina em botão.
da hora da germinação das sementes
e é expoente de fé na vida de um homem
e muitas das vezes sua perdição
toda mulher é consumida e se consome
da fome de amor que ela não sacia com ninguém
toda mulher lê nas estrelas toda mulher levita no gozo
e traz em seu corpo o ciclo da lua e das marés
toda mulher palpita ao toque das mãos amadas
toda mulher reúne bruxa e fada
são todas ladinas sereias bailarinas
toda mulher chora por tudo e por nada
toda mulher sabe ser a safada a santa a filha e a mãe
é conto de areia é canto de iara é orvalhada
toda mulher seduz e finge ser seduzida abduzida pela paixão
e toda ela é festa quando lhe aquece o coração o cheiro amado
Toda mulher é solo fértil das ilusões mais infantis
e ela sabe bem o que diz quando diz não
toda mulher é sementeira toda ela ela inteira é criação
ela embala nos braços o filho a pátria o sonho
ela acorda à noite pra convocar os anjos
e solta seus demônios quando ocorre traição
Toda mulher
carrega num ventre lacrado o segredo
do que ainda nem foi gestado
e mesmo sem parir
toda mulher é mãe diante da possibilidade de amar
porque toda mulher
é uma eterna rosa menina em botão.
A fome de amor come todos nós, todo dia...construímos cidades, mas não edificamos nossos espíritos. Damos computadores aos nossos filhos e eles não experimentam o toque do calor humano. Nos isolamos em apartamentos e temos medo de quem nos acompanha no elevador. Estamos todos morrendo de solidão em grandes centros urbanos. Precisamos repensar a vida e as verdadeiras miséria e fome.
Entranhas II
Porque dentro de mim mora a poeira das estrelas
e em minhas células pulsam baleias, aves e morros de uma paisagem distante.
Em minhas veias,
adoça o meu sangue um destino de muitos comungado por um só
e as vozes que soam aos meus ouvidos são chamados de um tempo
em que o vento desfraldava mares e almas.
e em minhas células pulsam baleias, aves e morros de uma paisagem distante.
Em minhas veias,
adoça o meu sangue um destino de muitos comungado por um só
e as vozes que soam aos meus ouvidos são chamados de um tempo
em que o vento desfraldava mares e almas.
Esfera III
Sofro de uma mansidão que me enleva a alma,
e ao sair do chão perco-me em muitos
- a hora do desapego é de agregação,
e os olhos estão mais abertos quando secos.
Porém
o céu é vasto e minha alma treme diante da possibilidade do infinito
- retorno então para a dimensão do efêmero.
Ainda não estou pronta pra voar...
e ao sair do chão perco-me em muitos
- a hora do desapego é de agregação,
e os olhos estão mais abertos quando secos.
Porém
o céu é vasto e minha alma treme diante da possibilidade do infinito
- retorno então para a dimensão do efêmero.
Ainda não estou pronta pra voar...
No código do tempo a lei é dura, a recompensa pouca, mas a sabedoria é vasta. Uma hora anula outra, e uma à outra não se basta. O Agora é permanente lembrança do passado ou o anseio pungente de um sonho a ser materializado. Mas a vida segue plena, dadivosa a quem a busca. Não se deve perder tempo correndo atrás das borboletas
Entranhas I
No meu avesso vejo os meus sonhos em gestação,
as minhas ideias que se engalfinham, lentamente, pelo meu sangue,
minhas órbitas coloridas e meus tentáculos emocionais.
Pelo meu avesso caminham todas as minhas fomes,
contidas, escondidas, silentes.
Neste meu avesso mora um tempo em que não habito,
mas que se faz presente na minha boca, por inteiro.
as minhas ideias que se engalfinham, lentamente, pelo meu sangue,
minhas órbitas coloridas e meus tentáculos emocionais.
Pelo meu avesso caminham todas as minhas fomes,
contidas, escondidas, silentes.
Neste meu avesso mora um tempo em que não habito,
mas que se faz presente na minha boca, por inteiro.
Esfera II
A custo me vem as forças para deixar-te
um mar de perfumes de corpos, de cafés, de maresia, de estradas
a custo me vem também a saliva morna de onde me provém o sabor de término,
de acertos, de idas
não se olha para trás nas despedidas nem nos enterros
a possibilidade de retorno deve ser extinta
como a brasa que cicatriza, no ato da queima,
a latente ferida.
um mar de perfumes de corpos, de cafés, de maresia, de estradas
a custo me vem também a saliva morna de onde me provém o sabor de término,
de acertos, de idas
não se olha para trás nas despedidas nem nos enterros
a possibilidade de retorno deve ser extinta
como a brasa que cicatriza, no ato da queima,
a latente ferida.
Esfera I
As cortinas, cerradas, são muralhas mal montadas onde penso que me escondo
do trote ansioso dos acontecimentos que se rebelam
e sem antecipar avisos me atropelam
no âmago das coisas:
o olhar que eu provocava
a carne que desejava, maldosa e secreta
a descoberta de não poder voltar atrás
o preço de tudo - a antiga paz que já não me cabe
- uma mortalha sem vãos.
do trote ansioso dos acontecimentos que se rebelam
e sem antecipar avisos me atropelam
no âmago das coisas:
o olhar que eu provocava
a carne que desejava, maldosa e secreta
a descoberta de não poder voltar atrás
o preço de tudo - a antiga paz que já não me cabe
- uma mortalha sem vãos.
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
S.O.S
Penso muito em nós dois, talvez demais
e de pensar embarco em divagações que me exortam
à outros amores
melhores que você, piores que nós dois
que diferença faz?
A minha paz de espírito foi penhorada
e o lance de produzir algo de novo não deu em nada
São as mesmas flores no início, os mesmos jargões
e pelas coisas mais tolas desta vida as mesmas discussões
de pensar assim tão constatemente nesta luta em pleno cio
faço um pacto comigo que lá no fundo repudio:
não me oferecer de imediato aos desvarios das entregas
e estabelecer logo de início que tudo isso é um jogo
eu é quem tenho que seguir algumas regras
não se trata de frieza pessimismo desencanto
apenas procuro preservar-me e não deve ser espanto
pra quem já amou em exagero que se chegue a conclusão
de que o amor entre dois seres tem lá suas vantagens
e prazeres
mas também tem seus revezes e barrancos e seus trancos
olha, eu sou só eu mesma, umazinha, tenha dó
e se despida de mim mesma em sua frente dá um nó
na garganta no estômago nas ideias
preciso urgentemente do bote salva-vidas
já que este mar tempestuoso tem muitas idas, mais do que vindas.
e de pensar embarco em divagações que me exortam
à outros amores
melhores que você, piores que nós dois
que diferença faz?
A minha paz de espírito foi penhorada
e o lance de produzir algo de novo não deu em nada
São as mesmas flores no início, os mesmos jargões
e pelas coisas mais tolas desta vida as mesmas discussões
de pensar assim tão constatemente nesta luta em pleno cio
faço um pacto comigo que lá no fundo repudio:
não me oferecer de imediato aos desvarios das entregas
e estabelecer logo de início que tudo isso é um jogo
eu é quem tenho que seguir algumas regras
não se trata de frieza pessimismo desencanto
apenas procuro preservar-me e não deve ser espanto
pra quem já amou em exagero que se chegue a conclusão
de que o amor entre dois seres tem lá suas vantagens
e prazeres
mas também tem seus revezes e barrancos e seus trancos
olha, eu sou só eu mesma, umazinha, tenha dó
e se despida de mim mesma em sua frente dá um nó
na garganta no estômago nas ideias
preciso urgentemente do bote salva-vidas
já que este mar tempestuoso tem muitas idas, mais do que vindas.
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