Tantas vezes, frente ao espelho, a pergunta
quem é?
Muitas numa imagem que nenhuma o é
absoluta
a santa, a puta, a servente
a mãe, a avó, a neta
a mulher que partiu e a definitivamente presente
a poetisa sem rima, a cantora de chuveiro
a alfabetizadora, a enfermeira de plantão permanente
a chefe de cozinha, a que lê à noite sozinha
a plena, a carente, a leoa, a serpente
a gata em teto de zinco quente
odalisca sem véus, irmã de alguém, a indiferente
um exército de guerreiras empunhando lanças
uma onda fresca que avança no homem eleito
um vendaval que derruba as barreiras
e, perdidas as estribeiras, vira tufão
docilidade de gueixa regada ao cheiro de café
mãos postas em oração ornada de altar
torra pão, frita o ovo, põe o jantar
adormece de cansaço no regaço do sofá
quem é?
a que passa, a que permanece,a que perdoa
mas não esquece - não
todos os dias visto estas mulheres
e me avisto em cada uma
que fica depois do meu portão.
Seus textos são ótimos.
ResponderExcluirFiquei muito feliz em conhecer o seu blog.
Temos muito a ver em gostos musicais e literários.
sonhador