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sábado, 11 de dezembro de 2010

Identidade

Tantas vezes, frente ao espelho, a pergunta

quem é?

Muitas numa imagem que nenhuma o é

absoluta

a santa, a puta, a servente

a mãe, a avó, a neta

a mulher que partiu e a definitivamente presente

a poetisa sem rima, a cantora de chuveiro

a alfabetizadora, a enfermeira de plantão permanente

a chefe de cozinha, a que lê à noite sozinha

a plena, a carente, a leoa, a serpente

a gata em teto de zinco quente

odalisca sem véus, irmã de alguém, a indiferente

um exército de guerreiras empunhando lanças

uma onda fresca que avança no homem eleito

um vendaval que derruba as barreiras

e, perdidas as estribeiras, vira tufão

docilidade de gueixa regada ao cheiro de café

mãos postas em oração ornada de altar

torra pão, frita o ovo, põe o jantar

adormece de cansaço no regaço do sofá

quem é?

a que passa, a que permanece,a que perdoa

mas não esquece - não

todos os dias visto estas mulheres

e me avisto em cada uma

que fica depois do meu portão.

Um comentário:

  1. Seus textos são ótimos.
    Fiquei muito feliz em conhecer o seu blog.
    Temos muito a ver em gostos musicais e literários.

    sonhador

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