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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Pérfida lucidez

A doida avança pela rua com os cabelos emaranhados

as mãos retorcidas e insones

os olhos gastos

Na presença da doida os pássaros se alvoroçam

crianças troçam maldozamente uma maldade só das crianças

nem os cães a perdoam não a permitem não a respiram

A doida traz o medo do contágio

traz o confronto com o meu outro

Pelos trapos coloridos que lhe recobrem as partes

veem-se caminhos tortuosos e sujos

restos latas rostos esquecidos e confusos

A doida geme

e seu gemido faz doer a alma faz secar lama faz cruzar a esquina

para não cruzar com a doida

A doida

vai arrebatando olhares cheios de pavor

da possibilidade tão comum

da demência.

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