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terça-feira, 5 de março de 2013

Eu me confesso devota de nós dois. Postos num altar do meu coração, flexiono os joelhos e fico observando as muitas montanhas que removemos; os mares que atravessamos engolindo sapos, cobras, lagartos, jacarés; os dias em que houve abundância de medo e sobra de lágrimas; os braços unidos como correntes de aço e seu olho pregado no meu, pra não me deixar soçobrar; as nuvens negras que trocaram nossos dias por noites densas, mas que rasgamos a unha e recuperamos nosso calor de direito. Eu me lembro das muitas vezes em que você não estava lá. Lembro também das vezes em que você caminhou sozinho e descrente. Depois, tem a gente de volta à gente, e tudo de novo, renovado e vingado do chão, com um tanto de saliva, um tanto de suor, um tanto de alegria ingênua que vaza pelos poros durante o amor que exaure, mas também acalma. É. Eu sou devota de nós dois, porque não acreditamos em almas gêmeas, mas tantas e tantas vezes nos confundimos, como quando nos fundimos num filho, onde posso ver eu e posso ver você. Nada de perfeito. Nada de instável. Apenas humanamente realizável. Até onde der. (Bete Amorim)

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