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sábado, 15 de outubro de 2011

A carta

não costumo escrever cartas - faltam-me paciência e boa caligrafia.
imagino que cartas devam ser como mapas astrais: reveladoras e comoventes
ou que tragam ainda o presente de uma notícia que comova, que alarde,
que retenha a alma, ainda que por breves instantes, no meio do salto,
na beirada da vida, na ponta do coração - uma seta, um esteio, um floreio.
se fosse atrever-me, perfumaria com secas lavandas e galhinhos de alecrim
e a iniciaria com uma frase bonita nascida d´algum poeta ou filósofo;
certamente, usaria um fino papel, pra dar leveza à despedida,
suavidade ao rompimento, transparência ao relato, meiguice à saudade.
suspiraria fundo a cada linha, pra secar a tremura das mãos
e os olhos - sou lacunosa e úmida ao abrir o coração
(coisas de canceriana, que se acha mãe do mundo!)
e faria uns rabiscos pelos cantos das folhas pra certificar de que era eu
(na frente de um papel, meus desenhos fogem-me ao comando).
assim, seria essa uma carta que ficaria debaixo de um travesseiro,
sobre a cômoda herdada da tia, engordurando sob uma mesa,
molhando dentro da caixa de correio exilada e gasta
- uma ilha de arrabescos e floresceres de emoções sem,
necessariamente, o acolhimento de seu destinatário.

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