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sábado, 15 de outubro de 2011

Da gente dessa terra

e contam-se os dias com os grãos de feijão espalhados sobre a mesa
catados com esmero pra evitar pedrinha,
lavados pelas mãos grossas e ressequidas da diária lida,
cozidos na pesada panela que se atarraca sobre o férreo fogão.
lá fora a tarde geme um sofrido chamado para que voltem aos galhos os passarinhos
enquanto na boca arde e sibila o cigarro de palha reascendido.
na domingueira pelo estradão acompanham cão e crianças,
indo à reza na capelinha encardida de poeira e vida gasta, cor do capoeirão.
à enxada tosca, a terra ruge ao ser fendida, oferecendo ao amado
um ventre avermelhado com promessa de semente boa: laranja, café, mandioca
e compassadamente rumina o boi o tédio do pasto extenso e perdido pelos montes além
- além dos homens sem certidão de nascimento, sem lápide pra cova, sem carteira
de dinheiro, de trabalho, de identidade
que este mundo se espraia pra depois da realidade em que imersos
dormimos - todos nós.

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