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sábado, 15 de outubro de 2011

Olhos de ver

eu vi a moça saltando no ar
dando rodopios grotescos, abrindo os braços, enlaçando nada
devorando tudo com a sofreguidão de um buraco negro.
eu vi o velho dançando uma canção inaldível, orquestrada
nalgum reduto secreto do seu coração, cantarolando para seus pés
e eles, correspondiam, fascinantes como cães fiéis: ritmavam.
eu vi a criança correndo atabalhoada entre o capim do quintal desleixado
quando adentrava num castelo inigualável, num pátio rebordado a ouro,
do seu abundante imaginário - quase sorvo sua alegria, admirando
um olhar que já não porto mais.
eu vi o homem dedilhando um violão como (é uma certeza!) jamais tocara
o corpo da mulher amada - tão sofrida entrega embaçada pela paixão.
eu vejo coisas, o tempo todo - todo o tempo
que meus olhos marejam, se assombram, se encantam,
das dores e alegrias
das paixões reinventadas, vividas em compartimentos pessoais,
explodindo na face dos que se recusam a ver.

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