Total de visualizações de página

quarta-feira, 18 de julho de 2012



Eu nunca sonhei. Nem de olhos fechados. A vida cuspia na minha cara todo dia, todo dia, como num verso ensaiado. E as coisas que eu pensava não iam além de tentar chegar íntegra ao dia seguinte. Eu tenho sulcos fundos na face, porque não se pode ver as pregas da minha alma. E se as mãos me denunciam a idade, a vitalidade dos olhos zomba despudoradamente do tempo que me consome. A rua me consola. Me dá algo que respirar, algo com que lidar além das paredes exatas. Por isso, não raro fujo para as calçadas e transeuntes incógnitos. A vida me deu braços firmes e ombros largos, bem largos, que de uma margem a outra não se vê. Carrego portanto um rio de arrebentações pelo corpo em uso. E sempre que me sinto dobrar, penso no capim que o vento primeiro afaga,depois roça-lhe a pele no chão, faz provar do baço da poça de água, mas ele retorna ao porte original e se agita ao sol, em glória. Já tive mais fome, até dentro das horas. Já tive mais medo, até dentro das vísceras. Agora tenho mais sorte: os dias nunca são iguais e descobri que jamais serei a mesma no próximo por de sol.Descobri sozinha, que caminhos a gente abre. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário