Total de visualizações de página

quarta-feira, 18 de julho de 2012

papel




era destas coisas que se descarta num momento de raiva e desprezo pelo peso dos dias
em que se dormiu no braço do outro e que o outro era verdadeiro:
um papel com um rabisco de delicadeza. 
é uma dor quase enjoativa olhar o passado de frente. uma dor que dorme na alma e acorda latejante.
por momentos eu me irritei de tal forma comigo mesma que me quis morta.
a minha capacidade de benevolência só não a exerço comigo.
é tudo fantasia, é tudo serpentina molhada em fim de baile, é tudo confete descolorado - 
e eu sei. pior que eu sei. 
mas minha humana face pede espelho, pede maquiagem, pede alegorias.
meu coração bebe alcoolatramente suas mentiras fáceis, seus carinhos toscos, suas voltas, 
dramáticas voltas que me enlouquecem e premiam.
no meio da confusão de meus sentimentos, tão amassado e marcado quanto meu amor
o papel descartado voltava à tona no meio do lixo que eu descartava naquele dia.
e, grotescamente, quase que shakesperiana, beijei-o, lixo e dor,
beijei-o. e o coloquei entre folhas de poesia de Cecília Meireles

Nenhum comentário:

Postar um comentário