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terça-feira, 5 de junho de 2012

Filhas do coração

Ameaçam-me as memórias. Antes distantes, agora fazem-se senhoras de meus pensamentos todos. Falam-me de uma amiga que abraçaria. Falam-me de um amor da que beijaria, de novo, pra ter a sensação de estar mais viva. De uma casa de avó e cheiros de cozinha mágica. De um quintal com horta e pé de amora. De um armário no canto do quarto que me assombrava. Falam-me sem dar descanso. Falam-me sem piedade. Invadem meus refúgios, sem barulho, mas com forte aroma de nostalgia. Cantam minhas cantilenas de roda, meus enredos inventados, meus segredos de alcova. As memórias mais doces são sorvidas sem desgaste, mas nunca andam sós, como bem se sabe. A elas segue a saudade, incontinente e indiferente à minha provável dor. Que saudade é dor que fura alma, com espinhos disfarçados de rosa. Minhas memórias insistem em quem eu era, no que eu fiz, em quem me foi. Ouço música; elas sabem a letra. Escrevo; elas pontuam. Como; elas evocam sabores de longe. E num momento, não vejo senão o que me mostram. São criaturas que brotam da alma, não da cabeça. Por isso são tão filhas.

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