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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Partitura solitária

vejo o mundo como por um vidro
como quando em criança se cobiça biscoitos:
de onde me vem tanta fome, tanto espaço
pra comportar mais gente, mais dores, mais outros espaços?
e estou sempre esperando, como uma amante rendida,
que ele me surpreenda, que me presenteie me levando às lágrimas.
me adorno para ele: rugas, peles, cicatrizes - e por ele
me desfaço em memórias que alguém apagou
(ou se apagarão, fracas lamparinas, tênues estrelas)
mas dele, ao contrário de todos os outros, não me canso nunca
seria o mundo a minha alma gêmea?
dele tive tantos filhos, que já não posso dar conta
- todos paridos a custa de experimentos e expectativas
muitos sonharam causas, outros nasceram mortos, ainda tive prematuros
anseios de voos e escaladas infrutíferas
e de nada me arrependo - nada, entende isso?
como se fosse um rio, que voluntariamente
some no mar.

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