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sábado, 19 de fevereiro de 2011

Beira de praia

O mar é uma extensão dos meus membros

um estiramento dos meus ossos

sempre estive lá como ele com ele nele

uma profunda comoção me acerca quando próxima a ele

útero mórfico plano insustento abraço de rochas

um mar já vivia dentro de mim antes de mim

e sua salobridade me vem a boca até sem o querer

- quase transbordo corais e sereias

suas areias são contas de contos de um sinistro rosário

alardeiam filamentos de corpos e preces por retornos

nada me passa desapercebido quando nele me deposito:

aves, vultos de peixes, orgia de algas, cheiro de terras

um eu que não é meu, que sempre foi dele

- o vento que lhe encrespa a face é o vento que me afaga

é desta fúria dos elementos que se embebeda a alma

e é nele que ela hiberna durante os malogrados temporais

O mar sempre coube em mim - mistério!

Mudam as estações e os homens

mas a sua impermanência é um alento

neste mundo de coisas rápidas e descartáveis

no seu plano de existência a lição da transitoriedade

é a regra da casa

dá-se, generoso que é, todos os dias ao céu por espelho

ele é o único que me rouba os olhos

que me quebra a bússola

que me rompe os tímpanos

O mar se confunde com esta minha momentânea estampa

e qualifica minha concha me ornando de cal e sol.

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