Total de visualizações de página

segunda-feira, 16 de abril de 2012

das dores de um só



meu amor acobertou-me em dunas - cobriu-me de seu fino pó...
ressecou-me as entranhas com a suavidade dos ventos marinhos
e dourou-me um implacável sol, de mil estrelas.
meu amor escondeu em mim um tesouro incomensurável
e guardei por décadas minha sede de seu hálito.
vi passarem animais e dei-lhes sede e cansaço de um corpo vazio
mas que revela sua fonte mais dadivosa a quem vasculha seu ventre.
vieram as histórias contadas de boca a boca pelos viajores
e os pés que marcavam-se na brasa de meu confuso coração;
vieram as canções ungidas de solidão e desejos, que rasgam a noite
como quem de uma mulher rompe o translúcido véu.
pontes sumiram, trilhas se perderam, rotas jamais vieram a tona.
marcas mais antigas que a própria lembrança do tempo
ornaram-me a fronte.
que é a morte, quando se é deserto?
que é a vida, quando se desconhecem oásis?
e meu amor, lavado em brumas e tempestades frias
jamais voltou para buscar-me de meu destino de seca.
ardo. clamo. choro.
mas nada disso se vê ou se ouve entre as areias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário