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segunda-feira, 16 de abril de 2012


eu não tinha nada pra fazer a não ser me ferir.
portanto, vasculhei todas as nossas caixas e dispus fotos e mais fotos
numa extraordinária pilha no centro da sala. sentei-me.
e sentada, chorei. de novo. eu, que secara em mágoas enterradas a fundo.
abracei aquele ramalhete de relatos em imagens esparsas e, com todas as forças,
tudo lancei aos ares, com impulso, com raiva, expirando forte!
vi sobre mim choverem lugares de revistas, cenários de sonhos, lembranças de dor.
e sobre os espantados móveis despencaram aqueles retalhos de vida,
atos das nossas peças, sem cortinas agora. agora, sem público.
caíram sobre o tapete, álibi de tantos arroubos;
sobre o chão frio, que conheceu nossas peles tão bem;
sobre o seu sofá favorito, gasto como todo o resto desse sentimento;
sobre a arca, entre outras fotos, estas, em porta retratos, imaculadas.
caíram sobre mim, como se alguma redenção me viesse disso.
fechei os olhos e me feriram, quando me tocavam com sua presença,
com sua lembrança, sua baça configuração.
pisei-as, beijei-as, deitei-me sobre elas e ri de mim. de nós.
somos papel. menos: somos uma impressão num pedaço de papel.
e por isso se sofre. por isso, se morre um pouco, bem devagar.

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