hoje a dor me visitou. de novo.
não é exatamente uma surpresa, sabemos todos.
é bem comum a tudo que habita estas terras a chegada de tal senhora.
mas veio de chofre - odeio quando me toma assim, desavisada.
ela me percorre, rompe toda a superfície, revelando-me mais sobre mim do que tudo:
medo, revolta, paciência, indolência, humildade, singularidade...enfim.
curiosa, investiga todos os quadrantes e ao sentir seu caminhar ponho-me atenta
os pelos erriçados, a pele umedecida, as pupilas dilatadas.
sei também que não tem pretensões de ficar - ela não pode
tenho meus meios para expurgá-la - e isso só a excita mais por vezes.
quando estou prestes a perder a batalha, mas por um tanto mais revido,
é quando ela cresce, me humilha, submete, só porque pode.
é peculiar esta sua visita. ela é a unica que, quando se vai, me deixa diferente de quem eu era.
sempre isso. talvez porque saiba, conscientemente, que voltará. e isso é uma certeza.
das poucas certezas que esta vida me legou.
até lá, finjo sua ausência. finjo minha impenetrabilidade. finjo que é dos outros.
assim lidamos com o que não podemos impedir - sonhamos.
até que o alarme soe uma outra vez.
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