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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Alerta

Silencia, minha alma
eis que vem o amanhecer precedido pelos passarinhos
O arvoredo coloriu de verde a ventania
é preciso despertar crianças velhos detentos
é preciso desabotoar rosas roupas memórias
O sol varre os últimos resquícios de maquiagem da noite
enquanto doura displicentemente bagos de uva teias e peles
O dia entra em todas as coisas e anda por todas as faces.

Silencia, minha alma
ouçamos o repentino chegar das chuvas
aconchegadas entre os fartos seios das grandes nuvens
Vêm trovoando sua marcha pelos céus
prometendo fúrias de raios e tufões
Ouçamos o silêncio das aves ocultas nas ramagens
o descompassar do coração a cada imprevisto trovão
que revela as entranhas do tempo no templo dos olhos
O dia escorre pelas beiradas das horas e dos telhados

Silencia, minha alma, uma vez mais
para a entrada da imperiosa senhora a Noite
com seu séquito de orgulhosas estrelas
seus sussurros e preces
seus mistérios que só seus dedos tecem e depois
esquecem sobre as vidas dos homens
no apagar das velas e das formas
A cálida dama vem dar de comer aos sonhos
Calemo-nos
pois tudo silenciar é preciso
para que se possa ouvir a própria existência.

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