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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

é breve, é leve, é partida

eu tenho cá, dentro deste meu peito, esta fome de ser mulher,
este sempre presente receio de que o tempo me passe a perna
e por algum malfadado descuido, algum sinistro descaso, um cochilo
eu me veja diante de mim sem possibilidade de remendos ou suturas:
é que é desse jeito, a vida escoa sorrateira e permanentemente e de repente
já é hora de sair do palco - mesmo as luzes se apagaram, e você,
ora, você não viu - conta de mercado, aluguel, pagar o estacionamento,
cimentos que proibem voos e delícias, como a carícia de cada dia.
ontem eu vi meninas que já não sou, rindo de coisas que ando achando tolas,
olhando pra todo mundo como se só elas luzissem (mas bem que luziam) e
num susto, num susto mesmo! tive pena por mim - a minha menina
jaz, enjaulada, na mulher adulta que lhe imponho, ameaçadoramente,
afastando-lhe os cabelos dos olhos em rijos pregadores que domam-lhe as mechas,
na saia na medida certa, no botão mais alto, no rosto mais trancado
- onde eu flutuava, agora piso duro e compassado.
nada contra a maturidade que exibe, com seu mérito, uma sabedoria do viver
- apenas o medo desse viver não ser, exatamente, vida.

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