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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

por hábito

é força do hábito me virar à noite na cama, tateando o espaço:
um espaço bem grande, bem frio, bem seco - ando pelos cobertores,
alva fronha que me causa náuseas e esta insônia - estou em território estrangeiro.
como também o é confundir meus horários e tomar café insosso,
abrir a torneira da banheira e mergulhar em cenas e estratagemas crus.
é força do hábito tagarelar em voz alta pra estancar o jorro contínuo de solidão,
cantar sem voz, estrangular a emoção mal nascida, apanhada de surpresa.
quando os olhos se esquecem de sua real função e vítreos calam,
calam para tudo a seu redor e para novas perpectivas. apenas morrem
de uma morte sem dor, sem data, sem alardes.
quando os braços são longos demais e ainda assim não alcançam jamais.
quando os dias são curtos para comportar tanto amargo nas entranhas,
tanta saliva espessa, tanta hora estéril, tanto sonho abortado pelo chão.
é força do hábito continuar respirando, comendo, dormindo e acordando,
nesta imensa vida oca e desprovida de tons.

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