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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

lápide

aqui jaz o meu coração - um sem nome de atos heróicos cometeu.
traz em sua face inúmeras cicatrizes honradas;
cravado em seu seio uma adaga, entre outras farpas e afins,
e ainda assim suportou bem as intempéries.
aqui, agora, buscará o repouso que lhe foi negado em vida - e disso participei.
estendido num espaço tão menor do que lhe faria juz, não reclamará:
é um humano coração - se contrai e se dilata segundo a necessidade da hora.
em suas mãos ainda abriga, dedos cravados sobre elas, recordações adocicadas,
fotos gastas, escritas reprimidas, flores insólitas.
viu mais do que supunha. acreditou em fadas, amigos, despedidas e chegadas,
portos salvadores, luzes milagrosas, palavras fáceis.
e por certo provou do cálice amargo da saudade, atravessando noites sozinho.
suturou ferimentos graves, careceu de alguma compreensão que fosse alívio,
conheceu outros corações - menos ou mais afortunados, mas igualmente nobres.
não leva arrependimento ou saudade - isso é que não!
- pendência não constava de seu vocabulário.
não era santo, bem o sabemos, não era mau tão pouco;
era o que veio ser, acredito.
parece até que só dormita, tão natural e sereno, tão menino ainda...
mesmo agora, inspira-me um certo pesar deixá-lo.
porém, a vida continuará em mim e, ironicamente, sobreviverei a ele.
não há homenagens aqui; só a assertiva de uma missão bem cumprida.

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