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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Onofra

Onofra mora num morro, lá em Niterói. Uma pessoa só, como tantas o são. Vive numa modesta casinha, de porém vasto quintal, acompanhada de suas gatas (que alguém por lá jogou, pobrezinhas! Mas conhecedor do bom e generoso coração da moradora, com certeza) e de um cachorro velho, amistoso como o são todos os cães, que responde pelo curioso nome de Samir.
Onofra enterrou um marido e não criou nenhum filho, coisa que muito lastima, mas assim o quis o Criador. Aposentada, viveu da faxina de casas de amigas, pois todos se enamoram de Onofra, com seus trejeitos de criança, rosto franco, apesar de exibir já alvos cabelos. De pequena estatura, isso só lhe acentua ainda mais os traços de menina que envelheceu sem crescer. Tem um sorriso destes raros, riso frouxo, aberto e inocente, de fazer muita gente invejar. E apego enorme às suas gatas e ao seu sempre companheiro cão.
Onofra também tem uma modesta criação de galinhas e daí advém o inusitado evento que me levou a falar dela: entre as galináceas, uma há, denominada Josefa, carijó invocada, dona de ares do pedaço, que, ao desejar botar seus ovos, tira às bicadas de seu cesto e cobertas, o pobre do Samir, indo lá fazer sua desova! E Samir, coitado, acuado e indefeso diante da invasora, refugia-se na porta da cozinha da casa, de onde observa, sentado tristemente, o domínio de seu antigo território.
Onofra conta a incomum história, enquanto, às gargalhadas, bate no chão os pequenos pés. É. Também eu já me acho enamorada dela.

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