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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

pertences pessoais

eu pertenço a uma história que você contou ao seu melhor amigo
e depois se esqueceu de como tinha me inventado.
eu pertenço a um passado lavado do seu corpo, a uma foto perdida na bagunça de uma caixa,
a um pedaço de papel de presente que você usa, hoje em dia, pra forrar seu armário.
eu pertenço a um plano invertido na sua vida - uma faceta da sua saudade destonada.
pertenço a um tempo da sua força de se agarrar a um amor que era pra sempre,
sem saber, realmente, do que você então falava.
me pertencem nossas idas e vindas sobre nós mesmos, colonizando espaços um do outro,
desenhando projetos com o dedo no ar.
me pertencem seu disco da Bethânia (é, não devolvi),
suas cartas onde você copiou poemas pra mim do Raimundo Rodrigues, um poster,
uma receita de um doce bom que a sua mãe fazia quando eu me materializava por lá
(que eu, lhe confesso, nunca tentei reproduzir).
nos pertence uma memória guarnecida de ternura e mútuo respeito,
um direito conquistado de não tocarmos neste assunto quando nos atropelamos por aí,
porque, afinal, já faz bem mais que um tempo, não nos pertence mais.

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