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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

uma história como tantas

Janaína rima com menina, mas já não o era. Pelo contrário. Ninguém, como ela, trazia selado no peito tanto sonho picotado, desfeito, pelas andanças cá no mundo. Órfã muito precoce, diante da sorte da vida só conviveu com o azar. A fruta mais doce lhe foi negada e a menina, coitada, era escrava da lida pesada do pai que a criou. Não houve descanso bastante para sua cabeça, nem cobertor que bastasse para debelar o frio que se instalou na estéril alma. Acostumou a não ser, a não ter e, por fim, a não querer. Até que lhe veio Ana. Ana foi a filha que o mundo lhe legou - chegou num dia assim, com cara de qualquer dia, trazida pelos braços de uma prima distante, que, errante na sua história, já não a podia cuidar. Depositou-a ali, como quem deixa no meio da estrada um fardo pesado demais e se foi, misturada às coisas das ruas e às gentes. Então, algo dentro de Janaína floriu, como uma primavera fora de época que de repente desperta e rebenta em botões. E Ana sorriu para ela, como a dizer-lhe que a vida é possibilidade infinita. Sempre.

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